Festas Juninas
Na
tradição brasileira, junho é mês de festa, quentão, quadrinha e de comemorar o
dia dos santos padroeiros: Santo Antônio, São Pedro e São João.
Chapéu de
palha, fantasia de caipira, rojão, busca-pé, balão, bombinha. É assim que
muitas pessoas festejam o dia de Santo Antônio, São Pedro e São João.
Estas
festas têm uma origem muito antiga. Antes do nascimento de Jesus Cristo os
povos pagãos do hemisfério norte celebravam o solstício de verão, ou seja: o
dia mais longo e mais quente do ano, que lá acontece no mês de junho. Era o
início do verão, do tempo das águas.
Nestas
festas, a fim de promover a fertilidade da terra e garantir boas colheitas, havia
fogueiras, danças e comidas típicas. Com o avanço do cristianismo a igreja
incorporou estas festas no seu calendário.
Os
colonizadores portugueses trouxeram estas festividades para o Brasil e aqui
elas ganharam cores e sabores influenciados pelos índios e pelos negros,
responsáveis pela mão de obra e pela cozinha na era da colonização. É por isso
que hoje, além do quentão e da fogueira, se usa nestas festas quitutes de
milho, amendoim e mandioca, alimentos básicos para a fabricação de bolos,
tapioca, paçoca, pé-de-moleque e pamonha.
Estas
festas, embora servissem para homenagear os grandes santos da igreja, viraram
festas mundanas, que nada tem de santo. A maioria das pessoas que celebram as
festas juninas nem sabem a quem estão homenageando, ou seja: não sabem nada a
respeito de João Batista, Pedro e Antônio. Por isso, na nossa mensagem de hoje,
aproveitando a data, queremos falar um pouco sobre estes três personagens.
Como para
nós eles são seres mortais, pecadores como qualquer outra pessoa, nós não os chamaremos
de santos, mas sim pelos seus nomes, como eram conhecidos na época em que
viveram.
Comecemos
pelo Antônio, o santo casamenteiro. Antônio era um missionário da ordem dos
franciscanos, que nasceu em Lisboa no ano de 1195. Foi um grande pregador. Ele
ficou conhecido na época pela dedicação que tinha aos pobres. Hoje, no entanto,
ele é mais conhecido como aquele que arranja bons partidos para o namoro e o
casamento. É o santo casamenteiro. Por isso, o dia doze de junho, dia do seu
aniversário, além do dia de Santo Antônio, se comemora também o dia dos
namorados, o santo casamenteiro.
Como o
seu nome não está na Bíblia e a história fala muito pouco dele, não temos muita
coisa a dizer sobre esse personagem, além do que foi dito. A única coisa que
poderíamos acrescentar é que Antônio deve de servir de exemplo para nós de como
ajudar aos pobres e necessitados.
Dia de
São João, o santo festeiro. Segundo a tradição, a mãe de João Batista fez um trato com a sua prima
Maria, que no dia em que o menino nascesse faria uma fogueira para avisá-la. E
Isabel fez o que ela combinou: no dia do nascimento de João Batista fez uma
grande fogueira para avisar a Maria. Por isso é que hoje no dia de São João se
usam fogueiras, balões e fogos de artifícios para festejar o dia.
Segundo
as Escrituras Sagradas, João Batista era o precursor de Jesus, aquele que
prepararia o coração das pessoas para que Jesus pudesse entrar. A sua mensagem
era: “Arrependei-vos, porque já está próximo o reino dos céus”.
Muitas
pessoas vieram a João Batista, pedindo que ele o batizasse. Porém, a maioria
vinha a ele sem estar verdadeiramente arrependido. A estes João chamou de raças
de víboras, sepulcros caiados e hipócritas. Disse que se eles não se
arrependessem verdadeiramente dos seus pecados eles seriam cortados e lançados
no fogo, assim como se faz como uma árvore infrutífera.
A
pregação de João Batista nos mostra de que Deus não aceita fingimento,
hipocrisia e falsidade. O que Deus quer é uma mudança interior. O verdadeiro
cristão deve viver conforme a sua fé, pois a fé sem obras é morta.
Dia de
São Pedro, o santo dos pescadores. Segundo a crença popular, Pedro guarda as chaves
do céu, lava o assoalho quando chove e arrasta os móveis quando troveja. Por
ter sido pescador, Pedro é tido como o patrono dos pescadores.
A Bíblia
nos diz que Pedro era um dos discípulos de Jesus. Certa vez Jesus perguntou
quem o povo achava que ele era. E Pedro respondeu dizendo: “Tu és o Cristo, o
Filho”. Jesus elogiou a resposta de Pedro e acrescentou, dizendo: “Tu és Pedro,
sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não
prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos céus. O que ligares
na terra terá sido ligado nos céus. O que desligares na terra, terá sido
desligado no céu” (Mateus 16.18,19).
À base
desse versículo, muitos acham que Pedro seja o porteiro do céu. É ele quem
decide quem deve ou não deve entrar no céu. Outros vão mais longe ainda: acham
que Pedro controla o tempo, mandando chuva e fazendo trovejar. Mas isso é uma
idéia errada.
Quando
Jesus estava entregando as chaves do reino dos céus para Pedro, Jesus estava
dando para ele o poder de perdoar pecados e reter o perdão. Mais adiante Jesus
daria esse mesmo poder também aos outros discípulos.
Em João,
capítulo 20, Jesus explica melhor o que significa isso, ao dizer: “Recebei o
Espírito Santo. Se de alguns perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; se lhos
retiverdes, são retidos” (João 20.16).
Hoje quem
exerce esse poder de perdoar pecados e reter o perdão é o pastor. Ele o faz,
quando no culto público, após a confissão de pecados, diz: “Em virtude desta
sua confissão, na qualidade de ministro da Palavra, chamado e ordenado, eu lhes
perdôo todos os pecados. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém”.
Esse
trabalho do pastor é chamado de Ofício das Chaves, que segundo Lutero “é o
poder peculiar que Cristo deu a sua igreja na terra para perdoar os pecados aos
pecadores penitentes, e retê-los aos impenitentes, enquanto não se
arrependerem”.
Mais
adiante, explicando o que significam essas palavras, Lutero diz: “Creio que
tudo quanto os ministros de Cristo, devidamente chamados, fazem conosco, é tão
certo e válido no céu, como se Cristo tratasse pessoalmente conosco,
especialmente quando excluem da congregação cristã os pecadores impenitentes e
absolvem aqueles que se arrependem dos seus pecados”.
Pedro, em
Pentecostes, ele mostrou como isso funciona. Primeiro ele apontou o dedo para
aqueles que mataram a Jesus, dizendo que eles iriam pagar caro por esse seu
ato. Quando aquela grande multidão se mostrou arrependida pelo que fez, Pedro
lhes anunciou o perdão, dizendo: “Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado
em nome de Jesus Cristo para o perdão de vossos pecados e recebereis o dom do
Espírito Santo” (Atos 2.38).
Pedro deve
servir de exemplo para nós. De um lado, devemos ser duros com o pecado: não
deixar que as pessoas façam o que bem entendem, fechando os olhos como se não
tivesse acontecido nada. Mas, de outro lado, quando uma pessoa se arrepende do
erro que cometeu e quer corrigir a sua vida, nós a devemos perdoar e aceitá-la
novamente como irmão na fé.
Não há
pecado que Deus não possa perdoar. Jesus perdoou a Zaqueu, a Maria Madalena e
ao Malfeitor na cruz. Por isso nós devemos também perdoar uns aos outros, de
maneira especial ao irmão na fé, que errou, mas está arrependido e promete se
corrigir.
Embora o
dia de Santo Antônio, São João e São Pedro sejam hoje festas puramente
mundanas, não faz mal a igreja lembrar a vida e os feitos desses grandes homens
de Deus.
João Batista
nos mostra que Deus não aceita fingimento; Pedro nos mostra que Deus é capaz de
perdoar qualquer pecado; e Antônio nos mostra que, como filhos de Deus, devemos
fazer sempre o bem aos outros, de modo especial, aos necessitados.
Imitemos,
pois, esses nossos guias, conforme nos recomenda o autor da carta aos Hebreus,
pois eles nos deixaram valiosos exemplos: “Lembrai-vos de vossos guias, os
quais vos pregaram a palavra Deus; e considerai atentamente o fim da sua vida,
imitai a fé que tiveram” (Hebreus 13.7).
Pastor Lindolfo Pieper
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